Acadêmica estuda aplicação do blockchain no comércio entre Brasil e árabes

18/09/2023

São Paulo – De um lado, o blockchain e suas imensas possibilidades de aplicação. De outro, a relação comercial do Brasil com os países árabes e seu potencial de crescimento. Unir esses dois universos e verificar como o primeiro está beneficiando e pode fazer avançar ainda mais o segundo foi objeto de estudo de uma aluna da pós-graduação da Universidade de São Paulo (USP), a paulistana Helena Leite Rodrigues Fernandesa), de 23 anos.

Helena entregou no começo deste mês o trabalho de conclusão do MBA em Digital Business da unidade Esalq, da USP, com o tema “Tecnologia Blockchain: oportunidades de aplicabilidade nas relações comerciais entre o Brasil e os Países Árabes”. O trabalho ganhou nota máxima e os professores que acompanharam apresentação da pesquisa sinalizaram que o material ficará na Biblioteca da USP como referência no assunto.

A história da paulistana com a tecnologia começou na Câmara de Comércio Árabe Brasileira, onde ela trabalha e é responsável há quatro anos pelo sistema de gestão de relacionamento com o cliente. Apesar de graduada em Marketing, a partir da experiência com o software, a jovem quis se aprofundar em tecnologia e se interessou por blockchain. “Eu gosto de estudar e falei: vamos ver o que tem no mercado de tecnologia além do CRM (Customer Relationship Management). Descobri que tem várias coisas bem legais”, diz.

Helena começou a estudar blockchain inicialmente de forma autodidata, se baseando principalmente em conteúdos em inglês, já que encontrou poucas informações existentes sobre o assunto em português. Também passou a frequentar eventos e workshops sobre blockchain. Quando foi procurar por um MBA para fazer, em 2020, no entanto, não achou cursos voltados especificamente ao assunto, mas acreditou que o Digital Business da USP era um bom caminho para unir blockchain e negócios, o que ela pretendia estudar.

O interesse pela tecnologia a levou não apenas a uma pós-graduação na área, como a migrar de setor no emprego. Na Câmara Árabe há sete anos, onde entrou como menor aprendiz, Helena trafegou entre as áreas Comercial e de Marketing, mas desde o início deste ano está no Departamento de Tecnologia da Informação (TI), em que tem o cargo de Product Owner e dá apoio a um projeto de blockchain, entre outras atividades.

A Câmara Árabe possui uma plataforma chamada Ellos, da qual faz parte o Easy Trade, ferramenta que usa blockchain para operar de forma digital o despacho aduaneiro do comércio do Brasil com os países árabes, dispensando o papel. A solução já é usada na exportação do Brasil à Jordânia e deve passar em breve a ser utilizada por outros países árabes. O Easy Trade da plataforma Ellos foi o caso estudado por Helena no MBA.

“O blockchain é tão customizável, é tão manipulável que você pode aplicá-la em determinados setores conforme demandas muito específicas. Ele provém vários benefícios, é seguro, é transparente, é rastreável e escalável. Essas características acompanham o blockchain independentemente da aplicação. Eu posso usar no setor financeiro, eu posso usar em supply chain, eu posso usar em N lugares, ela continua sendo segura, transparente, rastreável e escalável”, afirma.

Com base na experiência com a plataforma Ellos, o trabalho apontou o benefício do uso da tecnologia de blockchain no comércio do Brasil com os países árabes, além dos desafios ainda existentes e das novas oportunidades de aplicação. O estudo parte de uma visão geral sobre a tecnologia de blockchain, sobre a relação comercial Brasil-países árabes e os seus potenciais. “Brasil e países árabes são parceiros muito importantes, têm potencial gigantesco, blockchain também tem potencial gigantesco”, afirma Helena.

A acadêmica fez entrevistas com profissionais de diferentes áreas da Câmara Árabe sobre a aplicabilidade e os benefícios vistos na plataforma Ellos e seu blockchain. Profissionais de Relações Internacionais da instituição perceberam como benesse, por exemplo, a sustentabilidade do processo, ao usar documento digital em vez de papel, deixando de fazer o envio físico, o que geraria emissão de poluentes no transporte.

Em Inteligência de Mercado foram apontados a rastreabilidade e segurança da tecnologia, trazendo mais acurácia e transparência aos dados de exportação, inclusive para criação de políticas públicas visando o estreitamento da relação entre os países.

A área Comercial vê a economia de custo com o não envio de documento físico, propiciando até mesmo oferecer um produto mais competitivo ao mercado internacional. Também foi apontado como benefício o encurtamento de prazos, de 15 dias, para quatro horas, o que pode impactar as margens do negócio.

Uma nova aplicabilidade sugerida para o blockchain na relação comercial Brasil-países árabes e apontada na pesquisa foi a rastreabilidade que se pode fazer a partir de uma plataforma com essa tecnologia, principalmente para produtos halal. As mercadorias halal são produzidas segundo exigências do Islã e devem seguir uma série de padrões e procedimentos. O blockchain poderia rastrear todo esse processo e disponibilizar as informações ao consumidor.

Um dos desafios apontados foi a infraestrutura, já que para o blockchain funcionar é preciso internet e nem todos os países dispõem de rede conforme necessário. “Mas se for implantado algum projeto, você consegue ajudar esses países a terem essa parte básica de infraestrutura”, diz Helena. Outros desafios são dispor de profissionais qualificados em blockchain – que são escassos – e o custo, esse muito atrelado ao valor da mão de obra.

“Não há muitos profissionais qualificados e esse mercado está aquecendo, então o custo fica alto”, afirma Helena. Já outras despesas do blockchain, como armazenamento na nuvem e hospedagem no servidor, não costumam ser caros.

Com o MBA e a experiência adquirida, Helena se posiciona como uma profissional que propõe ou conduz projetos de negócios que utilizam blockchain e consegue planejar minimamente uma arquitetura para eles, mas em uma etapa prévia a um escopo técnico. Ela faz questão de explicar que não é desenvolvedora, portanto, não é a profissional que tem habilidades para criar uma plataforma de blockchain do ponto de vista tecnológico.

O trabalho de conclusão “Tecnologia Blockchain: oportunidades de aplicabilidade nas relações comerciais entre o Brasil e os Países Árabes” foi orientado pelo professor Bruno Henrique Sanches e deve estar disponível na Biblioteca da USP em breve para consulta pública. Ele dará origem a artigo científico para congresso ou revista.

Fonte: Comex do Brasil

Categorias: Notícias,

Voltar